Gabriel Mario Rodrigues
Presidente do Conselho de Administração da ABMES
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“O que eu ouço, eu esqueço; o que eu vejo, eu lembro; o que eu faço, eu compreendo.” (Confúcio)
Para elaborar o artigo de hoje, me inspirei em vasto material ao qual tenho acesso diariamente e que merecem reflexão. São milhares de artigos, livros e teses de renomados professores que vão parar nas prateleiras do porão das universidades, porque na prática ninguém aplica. Vemos grandes investimentos de tempo e dinheiro em congressos, com muitas exposições, mas, ao final, as mudanças parecem ser muito poucas.
Nos últimos anos, a educação dos jovens universitários tem apresentado grandes desafios para educadores e instituições de ensino. O que se vê, em maioria expressiva, é o fazer mais do mesmo, a mesmice secular das salas de aula.
Nesse cenário educacional, as metodologias ativas de aprendizagem (que já não são tão novas; está aí o Confúcio que não me deixa mentir) surgiram para aperfeiçoar o ensino de qualquer disciplina. Funcionam, no entanto, de modo bem diferente daquelas do aprendizado tradicional, pois o conhecimento deixa de ser apenas transmitido para ser obtido de maneira mais ativa pelo aluno – como a palavra indica –, o que contribui para que ele aprenda mais rápido, melhor e com maior eficiência.
Aqui já coloco uma cunha, qual seja, a de que as escolas nem sempre têm gente preparada para assumir essa modalidade, porque desconhecem o “chão de fábrica”, condição indispensável para tocar o método pra frente. Mestres e doutores com suas dissertações e teses, que temos em demasia, escrevem com base nas salas de aulas da sua infância.
Os questionamentos surgem mais rápido do que as soluções propostas para educar alunos, com interesses e habilidades muito diferentes das gerações passadas. Ou seja, os jovens têm acesso e processam mais informações, em velocidade mais rápida, além de serem cognitivamente mais hábeis para lidar com desafios mentais. Cria-se, em função disso, um grande problema para os professores: como atrair e manter sua atenção e seu interesse? E não nos enganemos querendo atribuir a eles a já “manjada” dispersão de atenção, a síndrome da deficiência de atenção.
Também não se fale na preocupante falta de motivação dos alunos com impactos sobre o desempenho e as taxas de abandono escolar, pois métodos tradicionais de ensino e aprendizagem (passivos) hoje não atendem às muitas necessidades dos estudantes, como a aprendizagem significativa e contextualizada, o desenvolvimento de competências e habilidades para a vida profissional e pessoal, a visão multidisciplinar do conhecimento, o empreendedorismo, etc.
Nesse sentido, as metodologias ativas de aprendizagem se apresentam como uma alternativa com expressivo potencial para atender às demandas e aos desafios da educação atual, mas requerem uma compreensão ampla de seus fundamentos.
Assim, a grande dificuldade, hoje, é a aplicação dessas metodologias destacando-se, especialmente, a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABProb) e Aprendizagem Baseada em Projetos (ABProj). Outra prática comum nas metodologias ativas de aprendizagem são as aulas invertidas, nas quais o estudante tem acesso a conteúdo online para que se otimize o tempo da aula de fato, aproveitando-a para tirar dúvidas, interagir com colegas e desenvolver projetos. Seus resultados positivos têm sido incontestáveis.
O professor Dácio Guimarães de Moura, da Universidade Positivo, de Curitiba, alerta:
“Embora haja o reconhecimento do potencial das metodologias ativas, há também uma resistência nos ambientes educacionais para a implementação de novos métodos de ensino, especialmente métodos ativos. Essa resistência parece estar associada, em parte, com o que chamamos de rigidez sistêmica (por exemplo, medo de prejudicar as abordagens tradicionais de ensino). Essa resistência parece relacionada também com as deficiências no processo de formação de professores, o professor que não tenha experimentado essas metodologias durante o seu processo de formação, certamente terá dificuldades em aplicá-las com seus alunos. Não obstante as dificuldades, as experiências de aplicação de metodologias ativas têm apresentado resultados extraordinariamente positivos, que recomendam a sua aplicação em grande escala”.
Uma ideia central dessas metodologias, em inglês, é: No More Passive Students. Ou, em português: Estudantes passivos, nunca mais.
O que são, afinal, as metodologias ativas de aprendizagem? O professor Guimarães de Moura tem as respostas. Para ele, de forma resumida e esquemática, metodologias ativas são aquelas que apresentam as seguintes características: participação do aluno (em todas as dimensões: sensório-motoras, afetivo-emocionais, mental-cognitivas), liberdade de escolha (considerando os múltiplos interesses e objetivos), contextualização do conhecimento (acentuando realidade e utilidade ao estudo e atividades), atividades em grupos (pautadas pelas contribuições em equipe), utilização de múltiplos recursos (culturais, científicos e tecnológicos), socialização do conhecimento e dos resultados.
E aponta algumas estratégias que podem impulsionar a implantação de metodologias ativas na escola:
1- organizar espaços administrativo-acadêmicos para incentivar e gerenciar o desenvolvimento de metodologias ativas, como núcleos e grupos de estudo e pesquisa sobre concepção e formas de implantação de metodologias ativas na escola;
2- criar condições para capacitação de recursos humanos que viabilizem a implantação de metodologias ativas na escola;
3- criar espaços institucionais para promover e incentivar a realização e apresentação pública de trabalhos realizados por alunos, professores e funcionários, no contexto de metodologias ativas, como: Museu na Escola, Feiras de Ciência, Tecnologia e Cultura, Projetos de Iniciação Científica, incubadoras, laboratórios abertos, revista para publicação de trabalhos realizados, incentivo à participação em concursos, etc.
Segundo o professor, filósofo e pesquisador José Moran, em entrevista para o portal Desafios da Educação, é urgente que a educação se reorganize. “Existe uma clara consciência em relação ao esgotamento do modelo antigo, seja na Educação Básica ou no Ensino Superior. Esse é um movimento mundial, não só brasileiro”, opina.
Colocar em prática esses conceitos, porém, é um desafio. Para Moran, autor do livro Metodologias Ativas para uma Educação Inovadora, tudo que é diferente encontra resistência. Assim, as metodologias ativas, apesar de não serem uma proposta tão atual na história dos sistemas educacionais, ainda não conquistaram as docências numa escala desejável, como solução para a melhoria dos processos de ensino e aprendizagem.
Resta, portanto, a tão exigida vontade de inovar e experimentar com metodologias que podem mudar a história das escolas, das salas de aula, dos aprendizados e, sobretudo, das sociedades.
Muitas experiências já realizadas de implantação de metodologias ativas têm mostrado que os resultados compensam de forma extraordinária os esforços e os riscos enfrentados. O contexto atual da educação parece indicar que os nossos sistemas tradicionais de ensino começam a definhar, exigindo novas propostas.
Pode ser que uma dificuldade específica para que as metodologias ativas vigorem nas universidades seja a imposição de conteúdos considerados imprescindíveis. Efetivamente, um curso técnico/tecnológico não pode abrir mão de garantir que os alunos adquiram certos conhecimentos e certas competências, consideradas básicas para o exercício da profissão. Está aí a opção de compatibilizar as vantagens e as necessidades que são inerentes às diversas propostas metodológicas.
A Gen Negócios & Gestão, uma iniciativa da Editora Atlas, traz interessante artigo que recomendo a leitura: O que é PBL? Entenda o método de aprendizagem baseada em problemas. Trata-se da primeira iniciativa na abordagem de Metodologias Ativas com a apresentação de Problem-Based Learning (PBL- em inglês) – antecessor das atuais Ativas, isso há quase cinquenta anos –, ou, em português, Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP).
Vale a pena ler sobre o PBL também na Wikipedia: https://en.wikipedia.org/wiki/Problem-based_learning
E, para fechar, deixo aqui um vídeo de um aluno de medicina que explica o PBL na prática.